Integridade é um ato de autoridade pessoal à serviço de um Propósito… e decidir praticá-la é um pequeno ato de coragem!!!

“Busque três qualidades numa pessoa – integridade, inteligência e energia.  Se ela não tem a primeira, as outras duas acabarão com você”. Warren Buffet

No seu livro Os Segredos das Empresas mais queridas, os autores Raj Sisodia, David Wolfe e Jagdish N. Sheth (Ed. Bookman, 2008) descrevem como as empresas conscientes praticam alguns princípios de gestão e, sobretudo, descrevem a forma de agir cotidianamente (a mais simples definição de cultura) dos seus membros.

Esses comportamentos são a base da sua forma de criar valor para todas as partes interessadas: sociedade, investidores, clientes, usuários, funcionários e médio ambiente. Ao se tornarem cotidianos, esses comportamentos converteram-se em verdadeiros valores organizacionais, visíveis em cada interação entre as pessoas que formam aqueles grupos e não só nos cartazes ou na comunicação formal dessas organizações, tais como Jet BlueTimberland ou Caterpillar.

Como resultado, já que estamos no mundo dos negócios, é bom lembrar que cada uma delas supera em muito a média de resultados financeiros e operacionais das empresas do seu setor (1.111% x 123% para S&P 500), além de serem marcas queridas pelos usuários e desejadas como empregadores pela força de trabalho.

Empresas como essas e outras, estão impulsionadas por um propósito superior (já explicitado nas suas missões) que transcende à simples maximização dos seus benefícios e contempla a intenção de fazer do mundo um lugar melhor para todos… intenção refletida, por exemplo, na declaração explícita de que tão importante quanto cuidar das estradas é promover encontros com segurança, com a qual a Arteris se apresenta para a Sociedade aqui no Brasil.

Estas empresas são dirigidas por líderes conscientes, impulsionados por uma atitude de servir e que, sobretudo, atuam alinhados com uma série de valores transcendentes que identificaram como os mais adequados e significativos para a “vida que querem viver”, construindo assim uma cultura consciente para um ambiente onde palavras tais como confiança, autenticidade, transparência, solidariedade, aprendizagem e integridade além de descrever com acuracidade esse ambiente, não precisam ser faladas constantemente, já que todos nessas comunidades sabem que elas são o pano de fundo silencioso de cada uma das situações de comunicação das quais participam… ou das que pensam e se preparam para participar!

A pergunta, quiçá, mais difícil de responder não é como desenvolver empresas e lideres conscientes, como muitos se perguntam. A pergunta crucial é: se aparentemente todos gostaríamos de viver num ambiente com essas características, por que é tão difícil praticar os comportamentos alinhados com essa expectativa?

Na minha experiência, isso se deve a diversos fatores, todos eles apontando para uma conclusão: estamos enfocando mal o verdadeiro problema que é evidenciado por essa dificuldade.

Seja porque declaramos integridade e não a praticamos, seja porque as pessoas que decidem demonstrar integridade (e é uma decisão sim!) nos seus comportamentos são “incômodas”, seja porque não cobramos com consistência (e às vezes os toleramos mesmo!) comportamentos íntegros dos líderes formais das organizações, seja porque apostamos ao desenvolvimento de habilidades de diálogo e não às causas da falta de diálogo (pelo menos a falta de diálogo construtivo, daquele que resolve problemas em forma conjunta), seja porque acreditamos que simplesmente ouvir a alguém nos permite saber o que pensa (ou, pior ainda, supomos que já sabemos porque pensa o que pensa ou o que se propõe a fazer com isso) e reagimos a partir dessa informação superficial sem fazer mais perguntas…., seja qual for o motivo tendemos ao conforto de maquiar as respostas para essas questões !!!

verdadeiro problema tem uma origem mais profunda: a sensação pessoal que “se digo publicamente o que penso… algo de ruim vai me acontecer”, em outras palavras que não será honrado ou valorado algo que eu aprecio.

E esta sensação têm duas causas possíveis: a) o ambiente realmente é hostil para com as minhas crenças e expectativas e prefiro escolher a cautela e/ou o silêncio, ou b) estou incomodado com o fato que, no momento em que o propósito (missão e visão) e as regras de convívio (valores) desta comunidade foram criados (ou me foram apresentados) decidi ficar calado frente à possibilidade de participar ou decidi dizer publicamente “sim” a algo que interiormente merecia um “não” e, agora, algo em mim me lembra constantemente o quão frustrante é essa situação de não ter exercido a autoridade pessoal que me permitiria expressar minhas dúvidas ou contra-argumentos de forma efetiva e respeitosa, Nem antes….nem agora!!!

O fato é que a única forma de resolver os verdadeiros problemas é mudando a perspectiva desde a qual olho para eles. 

Por uma série de motivos, no mundo executivo historicamente fomos estimulados a celebrar nossas certezas (“eu sei”, “é assim que se faz…”, “eu estou certo, o outro errado”, “isso não vai dar certo”, “já vi esse filme”, “em seis meses mais está engavetado e ninguém lembra mais…”, “quem está com a razão?”, etc.) o que certamente ajudou a construir um modelo mental subjacente de certezas e saberes. Esse modelo mental, conhecido como Fixo ou Knower, nos leva com frequência a comportamentos que podem ser vistos como arrogantes, seja por causa daquelas mesmas certezas não questionadas; seja pela ausência de perguntas a mim mesmo ou ao outro; seja pela fantasia que poderei falar “o que, quando e como quiser” o que penso, sem fazê-lo com o verdadeiro interlocutor interessado no assunto (isto último se parece bastante com fofoca, não parece?). Pense, por um instante, em quantos problemas o seu Modelo Mental Fixo já não o envolveu…

Qual a alternativa, então? O pequeno ato de coragem de exercer comportamentos de curiosidade e humildade, que se manifestam nas perguntas genuínas para entender (não para manipular ou esperar pela contradição do outro), na aceitação que posso não ter a verdade, mais apenas uma das perspectivas de uma realidade frequentemente complexa, na necessária empatia para aceitar que o outro, em geral, está tentando honrar suas crenças ao agir ou quando se expressa. Este conjunto de comportamentos é característico do modelo mental conhecido como Aprendiz ou Learner.

Uma vez mais, o convido a uma rápida reflexão. Imagine que você oferece para a comunidade de membros da sua equipe um projeto, uma ideia ou uma ferramenta, o que for que você acredita genuinamente que possa ser útil, ainda que eventualmente perfectível, para as pessoas e para a organização, alem de ser, no seu ponto de vista, alinhado com o propósito que vocês têm como grupo….Imaginou? Agora, honestamente… usando qual dos dois modelos mentais possíveis você gostaria que os outros tratassem sua oferta ?

A conclusão é simples, agir a partir do modelo mental Fixo, quase que no pensamento automático, tem a vantagem de proteger-me da exposição e não sugar minhas energias, no entanto cria um ambiente de baixa abertura e baixa confiança que em geral acaba em ressentimentos e frustração. A energia que não gasto no dialogo construtivo com o outro, acabo gastando-a na gestão do estresse.

Por outro lado, agir no modelo mental de Aprendiz, certamente leva a uma exposição maior e cansa mais. No entanto a possibilidade de produzir, através do diálogo, um resultado que ninguém sozinho poderia produzir; viver e atuar num ambiente realmente parecido ao que todos em geral desejamos; alinhar meus comportamentos com o propósito e os valores declarados e aceitos (pelo menos publicamente) pelo grupo; saber que minhas emoções e ideias serão honradas nas conversas e, em definitiva, diminuir o umbral de medo, em outras palavras viver e construir um ambiente cada vez mais próximo do ideal ao qual aspiramos, ou seja cada vez mais íntegro, são recompensas, imagino, suficientemente gratificantes para todos.

Por tanto, o convido a intentar, sempre que entender possível, escolher usar a sua autoridade pessoal para influenciar e construir. Também o convido a escolher, sempre que entender possível, a exercer o ato de coragem de entrar numa conversa, qualquer conversa (até com você mesmo!) usando o modelo mental de Aprendiz, curioso e humilde… É muito mais saudável aumentar o nível de consciência individual e coletiva do que esforçar-se por ter que diminuir o umbral de medo, cautela ou ressentimento dos membros do grupo.

Assim, tentando agir cada vez mais próximo do Propósito declarado deste grupo, a sua Integridade será efetiva e alavancará a todos ao redor, ao invés de ser, eventualmente, seu caminho mais curto para o isolamento.

Se estivermos juntos até aqui, muito obrigado pela paciência e o interesse!!! Afinal das contas você poderia ter escolhido parar de ler estas linhas muitos parágrafos acima se isso o mantivesse íntegro consigo mesmo!!!

Rolando Pelliccia